domingo, 31 de março de 2013

Sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.

(Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, obra "Odes")

quinta-feira, 28 de março de 2013

Usufruir o presente

Não permitir a manifestação de grande júbilo ou grande lamento em relação a qualquer acontecimento, uma vez que a mutabilidade de todas as coisas pode transformá-lo completamente de um instante para o outro; em vez disso, usufruir sempre o presente da maneira mais serena possível: isso é sabedoria de vida. Em geral, porém, fazemos o contrário: planos e preocupações com o futuro ou também a saudade do passado ocupam-nos de modo tão contínuo e duradouro, que o presente quase sempre perde a sua importância e é negligenciado; no entanto, somente o presente é seguro, enquanto o futuro e mesmo o passado quase sempre são diferentes daquilo que pensamos. Sendo assim, iludimo-nos uma vida inteira.

Ora, para o eudemonismo, tudo isso é bastante positivo, mas uma filosofia mais séria faz com que justamente a busca do passado seja sempre inútil, e a preocupação com o futuro o seja com frequência, de modo que somente o presente constitui o cenário da nossa felicidade, mesmo se a qualquer momento se vier a transformar-se em passado e, então, tornar-se tão indiferente como se nunca tivesse existido. Onde fica, portanto, o espaço para a nossa felicidade?


(Arthur Schopenhauer, obra "A Arte de Ser Feliz")




segunda-feira, 25 de março de 2013

Sobre a leitura obrigatória


(Foto: Shakespeare and Company - Paris, 2011)

A leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto falar em felicidade obrigatória.

(Jorge Luís Borges)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Duo cum faciunt idem, non est idem

Para as nossas ações e omissões, não é preciso tomar ninguém como modelo, visto que as situações, as circunstâncias e as relações nunca são as mesmas e porque a diversidade dos carácteres também confere um colorido diverso a cada ação. Desse modo, duo cum faciunt idem, non est idem (quando duas pessoas fazem o mesmo, não é o mesmo). Após ponderação madura e raciocínio sério, temos de agir segundo o nosso carácter. Portanto, também em termos práticos, a originalidade é indispensável; caso contrário, o que se faz não combina com o que se é.

(Arthur Schopenhauer, obra Aforismos para a Sabedoria de Vida)


quinta-feira, 21 de março de 2013

Momento Macanudo


Devemos ser abertos

Eu não aceito quaisquer fórmulas absolutas para viver. Nenhum código pré-concebido pode ver à frente tudo o que pode acontecer na vida de um homem. Conforme vivemos, crescemos e nossas crenças mudam. Elas devem mudar. Assim, penso que devemos viver com esta constante descoberta. Devemos ser abertos para esta aventura em um grau elevado de consciência de viver. Devemos apostar nossa inteira existência em nossa disposição para explorar e experimentar.
  
(Martin Buber)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Se sente bem?


Momento Mafalda


E quem se aproxima se acende

Cada pessoa brilha com luz própria entre as demais. Não há dois fogos iguais. Há fogos grandes, fogos pequenos e fogos de todas as cores. Há pessoas de fogo sereno, que nem percebem o vento, e pessoas de fogo louco, que enchem o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam e nem queimam, mas outros ardem na vida com tanta vontade que não se pode vê-los sem pestanejar, e quem se aproxima se acende.
(Galeano, El libro de los abrazos, Siglo XXI)

terça-feira, 19 de março de 2013

É bom, bonito, natural, ser natural

(Foto: Rodrigo Erib)

Tanto tenho lido e escutado sobre diferenças, preconceitos, o politicamente correto (detestável na minha opinião, hipócrita e gerador de mais preconceito), que começo a pensar se não devíamos nos livrar das exigências, receitas, códigos, ordens, enquadramentos rigorosos e por vezes cruéis desta nossa cultura atual.
Cultura que propaga liberdade, mas nos veste camisas de força umas sobre as outras, lá vamos nós carregando esse ônus, e achando que somos livres – mas nem sabemos o que queremos.
Não é fácil descobrir quem a gente é: primeiro, estamos sempre mudando. Na essência somos alguém, mas algumas camadas legítimas da nossa alma (psiquê, mente, não me importa) vão se transformando, para melhor ou pior (quem sabe o que é isso?) com o passar do tempo e as circunstâncias.
E as escolhas nossas, claro. Conseguimos ser mais abertos ou nos fechamos mais; ficamos mais lúcidos ou mais alienados; enfrentamos o mundo de peito mais ou menos aberto ou nos anestesiamos com drogas, bebida, remédios; queremos verdadeiros afetos ou deliramos num sexo sem ternura nem parceria; enfim, escolhas ou destino, e alguma coisa muda.
Porém dentro do que de verdade somos, ainda que não sabendo muito bem, poderíamos ser fiéis a nós mesmos. Mas as pressões externas se tornam internas, o diabinho do espírito de manada sopra em nosso ouvido, é isso aí, vai ser da turma, vai fazer isso e aquilo, e ser assim ou assado, e se vestir (ou despir) conforme a moda, e tudo vale o sacrifício.
Porque se botamos a cabeça fora da manada, saindo um pouco que seja do rebanho, aparece alguém pra cortar cabeça, braço ou pernas que ficaram fora do quadro.
Como? Você não foi àquele vernissage, não visitou aquela cidade não viu aquele filme, não frequenta aquela academia, não transa tantas vezes, e daqueles jeitos que hoje são os melhores, não tem aquele vibrador, ou vibrador nenhum, que coisa mais sem graça! Você tem só vinte amigos em uma rede social? Eu tenho mais de mil, em outras muito mais, nunca estou sozinho, tenho um milhão de amigos.
E nos sentimos de fora, nos sentimos pobres, sem jeito, esquisitos até para nós mesmos. Mas, porque motivo, se nos sentimos bem com essas limitações, com nossa pobreza nas redes sociais, se não conhecemos bem Paris, não frequentamos academia, ou não aquela mais chique, não estamos dentro dos padrões, estaríamos errados? Nem aceitamos policiamento da linguagem, imaginem!
Ainda uso a palavra “negro” por exemplo, porque quando começava, burramente, a pensar em “afrodescendente”, me achando ridícula – porque tenho negros muito próximos, e árabes, e para mim são todos apenas pessoas -, me dei conta de que existe uma banda excelente chamada Raça Negra, que os negros batalham pela valorização da negritude que as cotas nas universidades vão para “negros autodeclarados”.
Isso faz o politicamente correto parecer incorreto. Se sou de uma cor de pele ou outra, mais agitado ou sossegado, gordo ou magro, ativo ou reservado, por que eu teria de mudar quando surge algum esperto querendo dar ordens? Tem gente que se sente à vontade sendo mais fechado, mais tímido, poucos amigos, mas verdadeiros, e aí fica inquieto porque teria de ter cem, ou mil.
Quero deixar claro aqui que nada tenho contra redes sociais, uso alguma vez o Facebook ou outro, mas nem precisei de mil amigos, nem critico quem os tem. Pois sou mais para reservada do que social, coisa minha.
O que me interessa é que a gente tenha consciência de que não são os duzentos ou mil aqueles a quem posso telefonar no meio da noite dizendo “estou mal” e virão correndo me ajudar. O que quero dizer é que é bom, bonito, natural, ser natural: com olhos azuis ou chineses, perfil árabe ou cabelo crespo. É bom, bonito, ser tímido ou extrovertido (desde que educado nos dois casos), até mesmo ser meio esquisito, fechado, contemplativo.
Tudo é positivo se é natural, exceto grosseria, cinismo, hostilidade. E a gente sempre pode melhorar, desde que não seja apenas para ser como os outros querem – e que não seja “do mal”. Aí é chato demais.

(Artigo Vamos ser quem somos, de Lya Luft - Veja,  21 de Novembro, 2012.)

Momento Macanudo

segunda-feira, 18 de março de 2013

1+1= 6

Quando duas pessoas se encontram há, na verdade, seis pessoas presentes: cada pessoa como se vê a si mesma, cada pessoa como a outra a vê e cada pessoa como realmente é.

(William James)

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.


Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz

(Alberto Caeiro - Heterônimo de Fernando Pessoa, obra O Guardador de Rebanhos)

Ter presente, não é só saber

Ter presente é estar em contato, deixar meu saber fazer-se sentir em mim inteira, antes de passar para outra coisa. Essa é a diferença entre saber que estou na rua, e ter presente o fato de estar andando na rua - sentindo o movimento do meu corpo, o pé e a rua se juntando, se tocando.

(Barry Stevens)

domingo, 17 de março de 2013

A vida é de quem mais a compreende e ajuda


Não viva somente por viver ou para ter, mas viva para ser. A vida é de quem mais a compreende e ajuda. Assim, o amor e o intrínseco prazer são exclusivos de quem os sabe criar e proteger.

(Antônio Meneghetti)

sábado, 16 de março de 2013

Deixe que o plano pra você surja de dentro de você

Seja como você é. De maneira que possa ver quem és. Quem és e como és. Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes. Arrisque um pouco, se puderes. Sinta seus próprios sentimentos. Diga suas próprias palavras. Pense seus próprios pensamentos. Seja seu próprio ser. Descubra. Deixe que o plano pra você surja de dentro de você.

(Fritz Perls)

sexta-feira, 15 de março de 2013

Feliz novidade para você!

A oportunidade de experimentar novos ares, novos rumos, novas conquistas, muitas vezes nos é excitante, mas também, por vezes, é excrucitante. Notar o novo requer consciência. Consciência da existência do velho. Dos velhos modos de pensar, dos velhos hábitos, dos velhos padrões. Sim! É preciso tomar consciência do velho para então poder transcendê-lo. Tirar o melhor proveito do novo exige um "abrir mão de", "para abraçar a" . Por um lado, o novo traz consigo um bocado de insegurança, porém isso não é uma condição sine qua non.  Por outro, há uma parte de nós que gosta (da perspectiva) do risco, de explorar, de experimentar, de experienciar. Parte que integra um todo.  E ser Todo é tornar-se íntegro, estar inteiro, completo. Um todo em (in)completo movimento. A completude vem do contato aberto e claro consigo e com o mundo. Quanto mais íntegro, mais assertivo para escolher abraçar o novo, e se preciso for, abraçar o novo de novo. Recomeçar. Tente o novo todo dia. Se errou, aproveite o novo dia, a nova oportunidade para colocar mais inteligência nas ações. Atitude. Esteja preparado para o que der e vier. E se não vier? Tudo bem. Fique bem. O mundo está cheio de (novas) coisas.

Feliz novidade para você!


De cabeça para baixo




Seguramente temos de nos colocar de cabeça para baixo e inverter o nosso modo de ver a vida.

(Barry Stevens)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Simples assim

O que deve ser será e chegará de forma natural.

Cada andorinha é lotada de pinheiro

 
 
A ordem das árvores não altera o passarinho.
 
(Tulipa Ruiz)

Aprender sobre si mesmo


Tal terapia é flexível e é por si só uma aventura de vida. O trabalho não se alinha com o conceito errôneo de o médico “descobrir” o que há de errado com o paciente e “lhe dizer”. As pessoas têm estado a “lhe dizer” a vida inteira e, na medida em que ele aceitou o que dizem, ele também tem estado a se “dizer”. Mais ainda, mesmo que haja a autoridade do médico, isso não vai mudar nada. O que é essencial não é que o terapeuta aprenda algo sobre o paciente e então lhe ensine, mas que o terapeuta ensine o paciente como aprender sobre si mesmo. Isso envolve o fato de ele tomar diretamente consciência de como, sendo um organismo vivo, ele funciona na verdade. Isto se consegue com base em experiências que são não-verbais.

(Fritz Perls, em Gestalt Terapia Explicada)

Nossa visão do terapeuta

Nossa visão do terapeuta é que ele é semelhante àquilo que o químico chama de catalisador, um ingrediente que precipita uma reação, que de outra maneira poderia não ocorrer. Ele não determina a forma da reação, que depende das propriedades reativas intrínsecas das substâncias presentes, e tampouco participa de qualquer composto que venha a ser formado com sua ajuda. O que ele faz é simplesmente dar início a um processo, e há alguns processos que, uma vez iniciados, são automantenedores e autocatalíticos. Admitimos ser este o caso da terapia. O que o médico põe a funcionar, o paciente continua sozinho. O "caso bem-sucedido", não é uma "cura" no sentido de um produto acabado, mas uma pessoa que sabe que possui ferramentas e equipamento para lidar com os problemas à medida que estes surjam. Ele ganhou espaço para trabalhar sem ser estorvado pelas bugingangas acumuladas de transações iniciadas mas não acabadas.
Em casos tratados sob essa formulação, o critério do progresso terapêutico cessa de ser uma questão de debate. Não é questão de "aceitação social" aumentada ou melhores "relações sociais", visto pelos olhos de uma autoridade estranha e auto constituída, porém a própria tomada de consciência, por parte do paciente de sua vitalidade elevada e modo de funcionar mais efetivo. Embora os outros possam também notar a mudança, a opinião favorável deles a respeito do que aconteceu não é o teste para a terapia.

(Texto retirado do livro: Não apresse o rio (ele corre sozinho), de Barry Stevens, página: 38)

quarta-feira, 13 de março de 2013

Somos mais



Sentido


Atuação Psicológica


Oferecer um lugar para o outro – lugar este que desde sempre já seria dele –, abrindo portas e janelas para sua visitação, oferecendo o melhor cômodo e a melhor comida, garantindo-lhe um espaço de habitabilidade, ou seja, um ethos, uma morada confiada e serena onde ele possa renovar-se para retomar suas dores no mundo.

(José Célio Freire)

Leia o texto completo: A Psicologia a Serviço do Outro.

Ser céu

Ser céu, enquanto se caminha na terra.

(Antônio Meneghetti)